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Posts Tagged ‘Livros’

Cachaça, a bebida nacional em dois livros

Quase todos os países têm a sua bebida nacional, que por pouco não são sinônimos para designar esta ou aquela parte do globo terrestre. Por exemplo, quando se fala a palavra tequila, logo nos remetemos ao México. O mesmo acontece com o saquê. Caso engraçado é o da vodka, que nos remete a Rússia, mas é uma bebida polonesa. O vinho, então, nem se fala; ou melhor, se fala que o mais tradicional é o francês.Agora, quando se ouve ou se fala a palavra cachaça, logo vem à mente o Brasil.

Portanto, a cachaça é a bebida brasileira. O mais interessante que, em vez de estar no mesmo patamar de prestígio social que as bebidas acima citadas, a cachaça durante séculos foi tida e vista como a bebida do zé povinho. Portanto, uma bebida menor que as elites brasileiras bebiam às escondidas.

A sua história está intimamente relacionada à nossa. O primeiro engenho data do início do século XVI e, por mais estranho que pareça, das capitanias hereditárias as duas que plantaram cana-de-açúcar foram as que obtiveram sucesso. São Vicente, no litoral norte de São Paulo, fundada por Martin Afonso de Souza, foi uma dessas capitanias e a inventora da cachaça. Foi moeda de troca durante a vigência do tráfico negreiro no Brasil.

De lá pra cá, mesmo sendo estigmatizada, proibida, subvalorizada é a bebida nacional. Há várias nomenclaturas; porém, segundo o autor, a verdadeira cachaça é aquela que pinga lentamente no alambique, sem qualquer tipo de adição ou extravagâncias além do recomendado.

Em Cachaça – Prazer Brasileiro, temos o primeiro guia prático do mundo sobre a bebida. Tendo todas as informações pertinente a este universo. Em seu outro livro, em edição bilíngüe, Cachaça bebendo e aprendendo (Cachaças drinking and learning), o autor Marcelo Câmara nos mostra as formas corretas pelas quais se deve degustar a cachaça e também indica algumas receitas e, de acordo com suas palavras, os bota-gostos, que melhor harmonizam com esta bebida que é a cara do Brasil.

Em ambos livros podemos ver o trabalho de dedicação a esta bebida e a sua defesa veemente, não apenas lá fora como aqui dentro. São citadas passagens em que algumas pessoas aqui do Brasil que “macaqueiam” termos utilizados para outras formas de degustação como o vinho e se apresentam como “cachaciers”. Sim, realmente soa estranho. A nomenclatura correta é pingófilo, cá pra nós, isto é muito mais Brasil.

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Machado de Assis: afro-descendente

23 outubro, 2007 1 comentário

Duvido que alguém aqui tenha gostado de ler Machado de Assis quando adolescente. As professoras nos empurravam quase toda literatura brasileira do século XIX e nós tínhamos que ler. Certamente, muitos de nós que ainda poderiam ter aquele gostinho pela leitura despertado, tiveram, sim, o gosto solapado. Quem sabe o que estou falando entende perfeitamente.

Agora, se por acaso, assim como aconteceu comigo, você estiver com 25 anos e de repente vai procurar alguma coisa numa antiga prateleira de livros e lhe cai aos pés, diretamente da prateleira, um exemplar de O Alienista, que alguma Tia dos tempos do primeiro grau lhe mandou ler, pegue-o e leia. Você vai se maravilhar e não se contentará apenas com este livro do Machado de Assis.

O mais interessante é saber não apenas o que ele escreveu, mas também sobre a sua vida. Vejamos o que diz o livro Machado de Assis Afro-descendente:

“Mulato, neto de escravos alforriados, nascido livre no morro do Livramento, no Rio de Janeiro, em 1839; órfão, na adolescência trabalha como balconista e operário gráfico; autodidata, passa da oficina à redação e, daí, ao emprego público e à literatura. Considerado um dos maiores escritores da língua portuguesa, Machado de Assis é acusado de aburguesamento. Esta reunião de textos convida o leitor a reavaliar o posicionamento machadiano em relação à escravidão e às relações inter-raciais existentes no Brasil do século XIX”.

Este livro é uma coletânea de textos (poemas, contos, crônicas e ficção) que mostra a figura dos negros e mulatos em Machado de Assis e também promove uma revisão da, agora errada, afirmativa “Machado negava sua origem” ou coisa parecida. Pelo contrário, ele a afirma através de suas palavras e personagens, mesmo que estes sejam figurantes em vez de protagonistas.

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História Cultural da Imprensa: Brasil 1900-2000

8 outubro, 2007 1 comentário

História Cultural da ImprensaSão cem anos da História da Imprensa Brasileira (1900-2000) que este livro reconstrói, sob a perspectiva de que é possível, a partir dos restos que chegam ao presente, interpretar o passado. Assim, os múltiplos movimentos da imprensa do século XX nele estão mapeados: a transformação dos jornais na virada do século XIX para o XX; a eclosão do jornalismo sensacionalista nos anos 1920; as relações ambíguas da imprensa com o poder durante o Estado Novo; a modernização dos jornais no período desenvolvimentista da década de 1950; a questão da censura durante a ditadura militar; o jornalismo popular e os novos cenários dos trinta últimos anos do século XX.

Acompanhar esta História Cultural da Imprensa é se informar, se enriquecer e mesmo se surpreender com fatos e relatos sobre os momentos marcantes da História do Brasil. Através dos jornais cariocas, com o Rio de Janeiro refletindo e projetando movimentos e ações culturais que pipocam por todo o País, a historiadora Marialva Barbosa faz uma obra de fôlego, reconstruindo cenários por vezes esquecidos pela nossa História.

Como salienta José Marques de Melo, História Cultural da Imprensa situa-se no mesmo patamar ocupado pela vanguarda nacional da História da Mídia. Neste livro, como ele observa, a autora adota uma postura investigativa e constrói uma narrativa brilhante, conquistando “lugar de destaque na constelação dos historiadores midiáticos brasileiros”.

A AUTORA

MARIALVA BARBOSA é professora titular do Departamento de Estudos Culturais e Mídia e do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (UFF). Mestre e doutora em História pela UFF, possui Pós-doutorado em Comunicação pelo CNRS-LAIOS (França). Pesquisadora do CNPq e “Cientista do Nosso Estado” da Faperj, dedica-se há várias décadas à pesquisa histórica dos meios de comunicação no Brasil. É coordenadora dos Núcleos de Pesquisa da Intercom e do GT de Jornalismo da Rede Nacional de Pesquisadores de História da Mídia. No momento coordena o Laboratório de Pesquisa de Mídia e História no Programa de Pós-graduação da UFF.

Lapa, cidade da música

4 outubro, 2007 2 comentários


O circuito cultural do Samba e Choro da Lapa permite repensar a crise e as alternativas para a indústria da música e para o Estado do Rio de Janeiro. É possível identificar na trajetória de sucesso deste fascinante circuito pistas capazes de nos fazerem refletir sobre a importância estratégica da cultura e, em particular, da indústria da música local para o desenvolvimento de diferentes regiões do país.No contexto atual, em que o desafio de promover o crescimento equilibrado aparece como uma verdadeira obsessão para as novas gerações, este livro busca contribuir de alguma maneira para a reelaboração de políticas públicas mais efetivas e democráticas.

Abaixo, o texto da orelha do livro por Hermano Vianna:

 

“Que a indústria fonográfica tradicional está em declínio, disso ninguém duvida. Mesmo assim – no meio da crise – nunca se produziu e consumiu tanta música como hoje. Há certamente artistas e públicos para todos os estilos, contudo há obstáculos e problemas graves na mediação entre produção e consumo. A verdade é que o modelo desenvolvido pelas gravadoras no século XX não dá mais conta dos negócios. É esse contexto atual de crise e a necessidade de se buscar inovação que Herschmann avalia neste livro, dando importantes sugestões para entendermos o futuro da indústria da música.

Já há algum tempo, o público vem se conscientizando de que as novas músicas pop de periferia produzidas no Brasil – tais como o funk carioca, o tecnobrega paraense e o forró eletrônico cearense, entre outras – não dependem das grandes gravadoras e tampouco da grande mídia para manter sua enorme popularidade nas ruas e grandes festas da maioria das cidades do país. São novos business musicais (cada um com seu modelo diferente) apresentando propostas e soluções bem criativas para os dilemas gerais da indústria fonográfica. Entretanto, lendo Lapa, cidade da música, é possível constatar que outros gêneros musicais, com histórias mais longas e de maior credibilidade junto à crítica mais conservadora, vivem situações semelhantes, nas quais a “falta de apoio” tem obrigado os atores sociais a inventar outros novos modelos de negócios, em sua maioria dissociados do sistema que as majors gostariam de eternizar.

Apesar das dificuldades enfrentadas pelo setor musical no Brasil, o renascimento da Lapa e a visibilidade cada vez maior de uma nova geração de músicos de “samba-choro de raiz” evidenciam como – de forma inovadora, sem o incentivo do Estado ou das grandes gravadoras (e com a colaboração apenas da “mídia espontânea”) – estes atores sociais que atuam neste novo circuito cultural vêm conseguindo mudar a geografia da vida noturna do Rio de Janeiro.

Esse processo, que é resultante da articulação e ação de inúmeros agentes sociais, é estudado de forma detalhada e cuidadosa neste livro. O autor sugere, a partir de sua análise do caso da Lapa, que é preciso se apoiar soluções endógenas – afinal, elas foram o ponto de partida para se construir a “nova Lapa”, com grande sucesso. Um sucesso que deveria servir de lição para todos”.

Pedro Páramo: Livro e filme

Dentro de sua brevidade Pedro Páramo sintetiza parte dos temas que têm interessado – e afligido – sempre os mexicanos, e que o talento de Rulfo soube captar no cotidiano dos habitantes do meio rural do sul de Jalisco. O planalto em chamas empreende a crônica de um país agonizante, matizado pelo rigor subsistente de seus antigos povoadores, os mortos, responsáveis pelo crescimento atrofiado que segue pesando sobre os vivos dentro da Comarca poeirenta e melancólica.

Sobre o Autor

Juan RulfoDificilmente um mexicano deixa de sentir, até nos dias atuais, a influência da Revolução Mexicana que se deu no início do século XX, Juan Rulfo foi diretamente atingido por ela, pois nasceu alguns anos após, mais precisamente em 1917, e sua família, que era proprietária de terras se viu arruinada. Cedo perdeu os pais.A mãe morreu de complicações cardíacas e o pai durante uma das várias batalhas internas do México, a Guerra de Cristero. Foi criado em um orfanato. Por um breve período foi seminarista, mas mudou-se para a Cidade do México, para estudar Direito. Nunca obteve a graduação. Tornou-se funcionário do serviço de emigração mexicano. Além da literatura sua outra paixão era a fotografia. De 1962 até sua morte em 1986, trabalhou no Instituto Nacional Indígena Mexicano.

Fundou revistas literárias e foi colaborador assíduo de outras tantas; também mantendo parcerias literárias com Carlos Fuentes e Gabriel Garcia Marques. Basicamente escreveu poucos livros e Pedro Páramo/O Planalto em Chamas[são dois livros em um só, na verdade] é considerado por muitos críticos como o primeiro livro escrito no gênero Realismo Mágico. Foi gestado por quase toda década de 1940, vindo a público na década de 1950.

Realismo Mágico

Muitos críticos analisam a literatura latino-americana como sendo basicamente classificada como Realismo Mágico. Ora, isto não é nenhum demérito. Na verdade é uma grande vertente literária que apresenta um continente, não somente geográfico, mas social, onde a conquista e a colonização se deram de modo peculiar. A formação dos vários países que atualmente se expressam em línguas latinas (um dia os EUA serão mais um país de língua latina) teve este componente mítico em sua formação. Basta ver o caso da chegada de Cortez ao México. Os presságios que assolaram e desconcertaram a mente de Montezuma se confirmaram de forma acachapante quando os espanhóis desembarcaram nas terras do Império Asteca.

Também não precisamos ir muito longe para entender que este gênero literário, o Realismo Mágico, têm representantes de várias outras línguas, como por exemplo, Ítalo Calvino. Temos também na própria América Latina o falecido escritor peruano Manuel Escorza, com seu “Garabombo, o Invisível”, Augusto Roa Bastos, escritor paraguaio de “Eu, o Supremo”. Muitos pensam que apenas Gabriel Garcia Marques, o escritor colombiano ganhador do Nobel de Literatura, é o grande expoente com o seu “Cem Anos de Solidão”. Esta vertente literária é como um rio caudaloso e sempre descobrimos e descobriremos novos autores, como por exemplo, David Toscana, outro autor mexicano, mas que prefere não classificar seus livros como sendo Realismo Mágico. Prefere, sim, que seja visto como uma literatura de cunho internacional. Na verdade isso não importa. Importa, sim, o talento com que escreve seus livros.

Cenas do filme baseado no livro Pedro Páramo, de Juan Rulfo.